Perfil Espiritual

VIVA FÉ E CONFIANÇA NA DIVINA PROVIDÊNCIA

A profunda fé do Pe. S. Gorazdowski, segundo relatos de pessoas que o conheceram de perto, expressava-se numa confiante entrega à Divina Providência. Com efeito, ele costumava repetir: “Nada temer, tudo será conseguido, como assinalam a seguir as testemunhas.

– Não era, no entanto, uma entrega passiva e inerte à Providência, porque o Pe. Sigismundo se aprofundava nos detalhes da vida diária e na medida do possível satisfazia ele mesmo as necessidades mais urgentes”.

Nas ocasiões em que faltava tudo, ele dizia à inquieta irmã cozinheira no Instituto para os incuráveis: “…vamos conseguir tudo, porque Deus vela por nós”. Para fortalecer a força dos seus pronunciamentos, “citava frases dos santos que falavam da entrega deles à Providência”. Diante dos imprevisíveis desígnios divinos, dizia: “É preciso aceitar isso tranquilamente, porque isso é necessário e tudo vai passar”. Igualmente “fornecia exemplos da vida dos santos e estimulava”. Quando lhe faltava dinheiro, dava esmolas maiores. É por isso que os habitantes de Lviv, vendo a multiplicidade das obras beneficentes fundadas pelo “Padre dos pobres” da cidade, com razão se referiam a ele como a uma pessoa que com fé infantil confiava na Providência, que “entregava também a si mesmo à Providência e por isso nada buscava para si mesmo”.

Ele não apenas estimulava as pessoas a se guiarem por uma viva fé na vida com palavras, mas dava a aula mais eloquente e convincente a respeito dessa viva fé pela sua vida, assinalada por uma entrega total a Deus.

ESPERANÇA ESCATOLÓGICA

As irmãs recordam que nos momentos difíceis seu Fundador costumava dizer-lhes: “Não te preocupes, minha filha, que tudo isso vai passar. A eternidade se encontra diante de ti. A vida é curta e Jesus Cristo dá o sofrimento àqueles a quem ama e – acrescentavam as irmãs – podíamos sentir que o Pai estava ligado ao que era eterno, indestrutível”.

As irmãs percebiam igualmente que o seu Fundador, ao falar de Deus ou do céu, fazia-o com a simplicidade e a alegria de uma criança, que se expressavam não apenas no conteúdo das palavras, mas no próprio tom com que se expressava. Uma dessas irmãs testemunha: “A esperança do Servo de Deus se assentava numa fé infantil na Divina Misericórdia. Na atividade do Servo de Deus diante das pessoas ‘marginalizadas’ – para nos utilizarmos de uma linguagem moderna – era difícil contar com a gratidão nesta terra. Contava apenas a recompensa do PAI que nos espera na eternidade”.

O Pe. Gorazdowski tinha um grande sentido de união com a Igreja padecente. Chegou até a fazer um ato heroico oferecendo a sua vida pelos falecidos que fazem penitência no purgatório.

HEROICO AMOR A DEUS E AO SEMELHANTE

Contemplando a vida interior do Pe. Sigismundo, podemos afirmar categoricamente que desde a sua juventude ele buscou, incessantemente e com muito amor, viver apenas por Deus e cumprir sempre a Sua vontade, permanecendo em estreita união com Ele. Toda a atividade do Bem Aventurado tem a sua origem no seu amor a Deus, no seu esforço para ser um adequado e digno instrumento, para levar o amor misericordioso do Pai Celestial aos homens, especialmente aos mais frágeis e indefesos. Uma testemunha afirma: “O Servo de Deus resplandecia com a virtude do amor. Ele mesmo se entregou a Deus e todos os seus atos decorriam de estímulos do amor a Deus, para a Sua maior glória, e não em vista do aplauso. Ele suportava as dificuldades em silêncio, em conformidade com o que provinha da vontade de Deus, sem se queixar e sem tentar justificar-se”.

Pessoas que avaliavam o Pe. Sigismundo transmitiram-nos este testemunho: “Bendizia a Deus pela oração, mas sobretudo amava a Deus nos semelhantes necessitados de ajuda. Tudo o que fazia tinha um objetivo – a salvação das almas, e sobretudo a glória divina. Nem sempre podia contar com o reconhecimento, mas apesar disso as dificuldades não o desalentavam. O que orientava o seu procedimento era a glória divina, o desvelo pelas almas humanas. Em sua vida, dedicava-se especialmente aos pobres e aos infelizes.

As irmãs recordam que: “O que mais impressionava no Pai era o seu amor às pessoas pobres e infelizes. Era a elas que distribuía tudo que possuía; ninguém dele se afastava sem receber ajuda… Era generoso para com os pobres até a prodigalidade… Tinha um relacionamento paternal com todos, especialmente com os mais depreciados aos olhos do mundo. A todos queria fazer o bem. Possuía em elevado grau a virtude da caridade… Não excluía a ninguém do seu amor, envolvendo com ele a todos… Tinha uma palavra de bondade para todos… Era capaz de ser um pai bondoso diante de todos que se encontrassem na miséria moral ou material”.

PROFUNDA E CONSTANTE ORAÇÃO

Os depoimentos e as recordações a respeito do Santo dizem que: “Com grande piedade celebrava a santa missa e os outros ofícios” e que “na sua presença era agradável rezar”. Uma das irmãs, que com ele residiu no Instituto S. José por vários anos, atesta: “Mais de uma vez tenho visto nosso Pai rezando na nossa capela de joelhos, mas também o via andando pelo jardim ou pelos corredores e rezando. Rezava o rosário, mas, mesmo quando não se via em suas mãos o rosário, toda a sua postura irradiava piedade… Quando na nossa capela havia a exposição do Santíssimo Sacramento, muitas vezes ele vinha, sentava-se em algum lugar pouco visível e rezava”.

Em muitos depoimentos e recordações as pessoas que viveram ao lado do Pe. Gorazdowski e que com ele colaboraram falam da sua piedade e da sua extraordinária capacidade de conciliar a oração com o trabalho, chegando a afirmar: “Sem a oração ele não teria dado conta do trabalho assumido. Ele rezava com frequência e com fervor”. Uma irmã que se lembrava do Fundador nos últimos meses da sua vida afirmou: “Devia ser uma alma mergulhada em Deus, visto que irradiava sobre os circunstantes o amor, a bondade e uma grande misericórdia”.

 MARCA DA CRUZ E ESPÍRITO DA MISERICÓRDIA

Merece ênfase, sobretudo, o grande culto do Pe. Gorazdowski à Paixão de Cristo. Irmã Cecília, que por longos anos trabalhou com o Fundador da Congregação de S. José, registrou o seguinte: “Não me esqueço do dia em que à tarde fui ter com o Pai com o objetivo de resolver um pequeno assunto doméstico. Eu o encontrei em silenciosa meditação e ouvi dele as palavras: ‘Irmãzinha, nesta hora Jesus Cristo sofreu na cruz o tormento a agonia’. Mais tarde fiquei sabendo que ele tinha o belo costume de às quinze horas unir-se espiritualmente com o Salvador agonizante na cruz”. Também as sextas-feiras do ano todo eram para o Santo Sigismundo dias especialmente dedicados à meditação da Paixão de Cristo. Os documentos preservados atestam claramente que “ele era para si mesmo extremamente exigente e determinado”.

O espírito da penitência e da mortificação manifestava-se na vida do Pe. Sigismundo também na alimentação, no mobiliário doméstico, no vestuário, e sobretudo na disposição interior. Pessoas que o observavam no dia a dia atestam que nos momentos de perseguição “não se via nele a mágoa, porque aceitava tudo tranquilamente… Diante das pessoas não se queixava do destino, que por vezes lhe era muito difícil”.

As testemunhas assinalam: “A espiritualidade do Servo de Deus era a espiritualidade da Cruz, o que se comprova tanto pela sua postura diante das próprias doenças e sofrimentos como diante dos variados sofrimentos das outras pessoas. Ele moldava essa postura… através de uma profunda devoção à Paixão do Senhor e da participação na salutar e salvífica Cruz do Salvador”.

ESPÍRITO DE POBREZA

O Pe. Sigismundo não tinha nenhum apego às coisas temporais. De acordo com depoimentos das pessoas que o conheceram: “Ele mesmo quase nada possuía. Tudo que acumulava era distribuído aos pobres. A maior preocupação do Pai era – diziam as irmãs – a busca de ajuda para as pessoas pobres, que perambulavam em tão grande número pelos becos de Lviv. A respeito de si mesmo o Pai não pensava nada, realmente nada; pensavam nele as irmãs, mas também o que delas recebia costumava sumir sem deixar vestígio”.

Como lembram as testemunhas: “Embora não fosse religioso e não tivesse feito o voto de pobreza, pela sua observância superava os demais… a exemplo do pobre S. Francisco de Assis. Vivia com muita modéstia e na sua residência possuía apenas os apetrechos mais necessários: uma mesa, uma cama e um armário. Alimentava-se com o que lhe serviam à mesa, não fazia cara feia, não permitia que lhe fosse servido algo mais refinado. Por ocasião do seu dia onomástico, permitia apenas que fosse servido café acompanhado de pãezinhos. Mas, de acordo com as recordações das irmãs, mesmo nos tempos mais difíceis não permitia que um pobre fosse despachado sem ajuda”.

Após a sua morte os jornais escreviam que: “…usava uma batina surrada, e batinas novas lhe eram fornecidas pelas próprias irmãs, porque ele mesmo não pensava nisso, nem tinha dinheiro para isso”. A sua grande pobreza é também testemunhada pelo seu Testamento, escrito cinco dias antes da morte, do qual resulta que nada de objetos materiais lhe havia restado para distribuir.

CULTO DE MARIA

O exemplo de Maria, Mãe do Sumo e Eterno Sacerdote, que se entregou inteiramente no mistério da Redenção, era para o Pe. Sigismundo, nos momentos difíceis do seu ministério pastoral, um verdadeiro apoio.

Pessoas que viveram ao lado do Pe. Sigismundo recordam que com muita frequência ele recomendava a devoção a Nossa Senhora. Diziam, por exemplo, que na santa confissão ele estimulava que as pessoas recorressem à intercessão de Maria, que se entregassem à Sua proteção e pedissem a Sua ajuda. Praticava o costume de presentear os seus penitentes com medalhas da Imaculada. Tinha também o costume de após o almoço recitar sempre a ladainha de Nossa Senhora. Afirmava que a Ela cabe devotar um amor infantil. “Estimulava a uma devoção especial a Maria nos meses de maio e outubro. Fazia isso não apenas com palavras, mas também pelo seu exemplo”. Estimulava também nos seus escritos: “…não deixes passar um dia sequer sem invocar a proteção de Nossa Senhora. Milhões de católicos comprovaram que a devoção a Nossa Senhora traz a bênção divina nas necessidades temporais e espirituais. Jesus Cristo nos ouve melhor quando juntamos as nossas ineptas preces aos pedidos de Sua Mãe. Traze também contigo o escapulário ou a medalha como um sinal de que és Seu devoto e filho, para que também Ela seja tua Protetora e Mãe na vida e na morte” (Conselhos e admoestações).

CULTO DE SÃO JOSÉ

O fato de que o espírito do santo Padroeiro da Igreja impregnava a atividade apostólica do Bem Aventurado é comprovado sobretudo pela circunstância de que ele confiou à proteção do santo Esposo de Maria as obras de caridade cristã por ele fundadas, de maneira especial o “Instituto S. José para Incuráveis e Convalescentes” em Lviv, a “Casa de Abrigo e de Trabalho” em Przemysl, a escola católica polono-alemã em Lviv, o instituto educacional em Krosno  e sobretudo a maior e a mais permanente expressão dos seus empenhos apostólicos – a Congregação das Irmãs de S. José (nome primitivo: Irmãs da Caridade de S. José).

Por iniciativa sua, as Irmãs reconheceram o Padroeiro da Santa Igreja como Pai da sua Congregação e, desejando conhecê-lo e venerá-lo de forma coerente, aprofundavam-se nas verdades relacionadas com a sua pessoa e a sua missão, especialmente por ocasião de celebrações que com esse objetivo eram programadas na casa matriz, extremamente ricas em conteúdo e em apresentação exterior, bem como durante o tríduo que precedia a solenidade de S. José no mês de março. Além disso, já nas primeiras sessões do corpo administrativo da Congregação que se formava falava-se de maneiras de reverenciar o santo Esposo de Maria.

PROFUNDA HUMILDADE

O Santo Pe. Gorazdowski distinguia-se por uma profunda humildade. Como enfatizam as testemunhas: “Era um sacerdote humilde, diante de ninguém demonstrava a sua superioridade e todos, pequenos ou grandes, tinham acesso a ele, porquanto sabia conviver com todos. Apreciava a ajuda humana… Insistia com as irmãs que com grande amor, humildade e devotamento servissem aos mais pobres. Era tão honesto que não havia nele a falsa humildade nem o exibicionismo. Em circunstâncias difíceis ele procedia com humildade”.

“Era a personificação da simplicidade. Acessível a todos… Em geral era sério, mas era capaz de ser muito espirituoso… Jamais se apresentava no importante papel de ‘Fundador’. Era como que disso não se lembrasse, embora o sentisse”.

Como recordam as irmãs: “Em relação a nós, jamais destacava os seus méritos ou a sua pessoa, embora fosse nosso Fundador; na convivência era simples, sincero, paternal. Nunca se queixava quando se alimentava na nossa casa, alimentava-se com os pratos simples da mesa comum, não permitindo nenhum tipo de exceção. Sendo o Fundador da Congregação e residindo conosco nos últimos anos da sua vida, não se apresentava no papel de Fundador, não enfatizava isso”.

As testemunhas recordam que, “como monsenhor, diante das pessoas doentes e necessitadas cedia tão profundamente aos sentimentos do seu coração que, sem levar em conta a sua dignidade, aceitava da parte dos seus pobres não apenas a gratidão, mas também injúrias. Certa vez um pobre que pedia esmola jogou a seus pés a moeda que havia recebido, por não ser do valor que ele esperava. Demonstrando bondade e controle, o Pe. Sigismundo levantou a moeda jogada e humildemente disse que esse era o seu único dinheiro e que mais não possuía”.

 

“Lembra-te de que o céu é a tua pátria eterna, que deves buscar durante toda a tua vida; por isso vive de tal forma que um dia sejas digno de louvar a Deus no céu juntamente com os Anjos e os Santos”. (São Sigismundo)