Simbologia da Imagem

Pequeno santuário na Capela das Josefitas  


QUADRO2

Na capela da Casa Geral das Irmãs de São José, em Cracóvia há um quadro do Padre São Sigismundo Gorazdowski. O seu valor é grande, não só porque o pintou Ir. Agnieszka Maniak, Josefita, mas acima de tudo, porque é inestimável para todos os devotos de São Sigismundo, pois, esta imagem foi exibida em Lviv durante as celebrações de beatificação em 26 de junho de 2001, presidida pelo Santo Padre João Paulo II.

SIMBOLOGIA DA IMAGEM de SÃO SIGISMUNDO GORAZDOWSKI

A imagem do Padre São Sigismundo Gorazdowski possui em sua eloquência simbólica algumas camadas significativas. A imagem foi pintada com tintas a óleo numa tela de linho com as dimensões de 1,70 m x 1,06 m.

A altura da figura do S. Pe. Sigismundo assinala a largura do quadro, porquanto, para enfatizar a importância e a santidade da pessoa representada; a própria personagem é localizada em formato quadrado, por ter o quadrado na pintura uma dimensão positiva – significa certa perfeição e é o símbolo da justiça. Com efeito, o lado corresponde ao lado, e o canto ao canto (S. Agostinho – de grantitude anima), enquanto que o retângulo aponta para a falta dessa perfeição. Assinalando a seguir um segundo quadrado a partir da parte superior do quadro, obteremos uma divisão em espaço celestial e terreno. O formato, nesse significado, é uma expressão de homenagem. As linhas na imagem, da mesma forma que no ícone, correm em direção ao espectador, como que formando um cenário de que participa o espectador. A luz na imagem é a chamada luz própria, interior, que é o símbolo da invisível graça divina, e ao mesmo tempo deve ajudar ao espectador a ingressar no mistério desse cenário. A parte superior da imagem fornece uma sensação de leveza, de liberdade – simbolizando o céu e assinalando de maneira geral o espaço do sagrado. A parte inferior é a condensação, o peso, e constitui uma oposição em relação à parte superior, simbolizando a injustiça terrena e assinalando com isso o espaço do profano.

Na composição da imagem pode-se perceber a simbologia da Igreja peregrina em oposição à Igreja Triunfante apresentada na parte superior. Analisando outras linhas direcionais, convém prestar atenção ao lado direito e esquerdo da imagem. O lado direito simboliza a salvação, a espiritualidade, as virtudes superiores, a misericórdia, a bondade, encontrando-se do nosso lado esquerdo. A Igreja triunfante – os salvos encontram-se parcialmente do lado esquerdo da imagem, visto que isso resulta da lógica da composição. A parte superior – da direita, como lugar mais significativo, porquanto representa o Bom Pastor, não o Supremo Soberano – o Cristo Rei das representações do juízo final, nas quais a mão direita e a esquerda associam-se literalmente com as palavras do Evangelho segundo Mt 25, 34. A partir do Bom Pastor, modelo ideal do sacerdote, símbolo do amor salvífico, da consagração da própria vida aos outros, paralelamente à linha retangular desce (em direção à esfera do profano) a figura do S. Pe. Sigismundo Gorazdowski. As linhas apontam paralelamente para a analogia, a imitação, o modelo, a direção e a missão concreta atribuída por aquele que se encontra por trás d’Ele.

O Santo não aponta diretamente para o Bom Pastor, mas aponta com a mão o canto superior direito do quadro, que simboliza – como já foi mencionado – a salvação, Deus, as virtudes superiores como: a construção e a continuação da herança que nos deixou. Toda a dramaturgia da imagem está contida entre esse canto superior do quadro e o canto esquerdo inferior (direção dos braços estendidos do Pe. Sigismundo). O canto inferior esquerdo, nessa simbologia, simboliza os valores mais baixos, poder-se-ia dizer o pior lugar – a esfera mais baixa. Os passos do S. Pe. Sigismundo encaminham-se para esse lado. Ele não hesita em descer a esse inferno da terra. A mulher localizada no canto esquerdo simboliza nesse contexto a mulher marginalizada e tanto mais desprezada por ser mãe de um filho fora do casamento. O fato de estar sentada sobre uma pedra possui também o seu significado. A pedra situada nesse lugar da imagem significa o peso da vida, o insulto, a força da maledicência que machuca. O fato de a mulher estar olhando para o braço estendido do Santo significa o desejo de aceitar o amor misericordioso, para o qual se eleva a mão direita do Pe. Sigismundo Gorazdowski. O gesto do Santo em direção à personagem que segura na mão um pedaço de pão parece dizer “não apenas do pão vive o homem”, ou – “bem-aventurados em pobres em espírito, visto que deles é o Reino dos Céus…”

Assim se explica a localização das diversas personagens no espaço do quadro. Além disso, nesse simbolismo podemos encontrar um quádruplo sentido: literal-histórico, elucidante, moralizante, transcendental. Por exemplo, em relação à mencionada figura da mulher, o sentido literal-histórico encontra a sua contrapartida numa obra beneficente do Pe. Sigismundo Gorazdowski como o Instituto Menino Jesus (o único na Galícia) para mães solteiras e crianças abandonadas. A figura do Bom Pastor encontra o seu sentido literal no trabalho redatorial na revista “Bonus Pastor”, bem como na Associação “Bonus Pastor” para os sacerdotes, por ele fundada.

Encontraremos o sentido transcendental numa das perspectivas utilizadas na imagem, bem como no simbolismo das cores. A apresentação da figura do Santo estabelece uma referência com a chamada perspectiva inversa medieval e icônica. As linhas representam simbolicamente os pontos de convergência no coração do observador ou da pessoa que contempla a imagem.

A imagem deve tocar o coração, e não criar uma ilusão de realidade. Analisando a cor da batina do Pe. Gorazdowski (preto e azul), encontraremos em seu simbolismo muitos significados. A sua batina, como se vê, é surrada, velha, visto que ele usava uma batina desse tipo – escreviam após a sua morte os jornais. A cor azul é a representação do que é sobrenatural, apontando igualmente para a imortalidade humana. É uma cor transcendental em relação a toda a realidade terrena. Na iconografia encontramos o azul-escuro no manto do Supremo Soberano, da mesma forma que no traje de Maria, a quem o Padre Fundador tinha uma devoção especial.

De ambos os lados da imagem erguem-se muros característicos, que no sentido literal-histórico devem apontar para a sua atividade de construtor, tornando-se a seguir, alegoricamente, a porta do céu (“Porta Coeli”), título atribuído a Nossa Senhora. A imagem é tratada como um ser vivo, sendo um texto. O seu sentido básico faz referência ao carisma com que se distinguiu o Santo Pe. Sigismundo, descrito com a ajuda de um meio substancial, com que opera a pintura. É por isso que até o feitio do quadro contribui para a construção de significados simbólicos.

A figura do Bom Pastor, que possui no cristianismo um profundo simbolismo, é apresentada pela seleção da técnica pictórica adequada, a tinta é empastada com espátula, para de alguma forma fazer referência ao túmulo no Cemitério Lyczakowski, ao mesmo tempo em que demonstra a durabilidade, a fidelidade do Pe. Sigismundo a esse modelo, que apresenta maior desvelo pelas ovelhas que por si mesmo. Por sua vez a apresentação esmaltada da Igreja triunfante aponta para a mútua interpenetração do Reino celestial e dos assuntos terrenos.

A natureza dos próprios símbolos é variada e por isso a sua interpretação simultânea só é possível no contexto de outros signos cristãos. O sentido desses símbolos faz referência aos significados cristãos. Por isso o pão – símbolo da Eucaristia e fruto do trabalho das mãos humanas – aponta para as palavras: “Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo” (‘Cor 10, 17), bem como para o lema da Congregação – “O coração junto a Deus, as mãos no trabalho”. Da mesma forma o símbolo da graça, que também apresenta vários sentidos, deveria ser interpretado no contexto de outros símbolos. Não vamos interpretá-lo de forma negativa, mas positiva, não como castigo mas como sinal de graça, visto que a personagem que a segura está localizada no lado direito da imagem. Apesar de estar situada no espaço terreno da injustiça, encontra-se no entanto um pouco acima, na “porta do céu”, aberta para os pobres bem-aventurados (…). A graça nesse caso significa o poder que apóia, que protege na peregrinação terrena. A cabeça dessa personagem dirige-se para o céu, está voltado para o lado do Santo e significa a confiança, a entrega a Deus. Pode-se perceber que do lado direito o Bom Pastor segura na mão direita a graça, aliás por razões fundamentadas e que já possuem uma outra dimensão, um outro significado.

A apresentação da pessoa de S. Sigismundo apenas entre os pobres faz referência ao fato de ele ser definido ou chamado como o “Padre dos miseráveis”. A falta de quaisquer atributos (além do pão e da bengala) testemunha que apenas a luz espiritual, que emana do seu rosto, a pobreza e o serviço aos mais pobre eram para o Pe. Sigismundo tudo – toda a sua riqueza.

Ir. Agnieszka Maniak – autora do quadro